Nos idos dias dos anos 70, no frescor de minha juventude,
decidi me engajar nas lutas por justiça social, pela reforma agrária e
democracia - estávamos vivendo no regime ditatorial militar. No campo os
latifundiários tocavam o terror e a
carnificina contra camponeses e indígenas.
Eu, atuante em grupos de jovens católicos, decidi me tornar
freira missionária como forma de ser coerente com o Evangelho de Jesus Cristo.
Em 1983, como freira franciscana, fui transferida para a
Paraíba, onde cursei teologia e atuei intensamente na educação popular e nas
lutas sociais.
Entendia que a fé em Jesus e no Reino de Deus pede o
engajamento na luta pelos pobres e excluídos da sociedade.
Foram dias de uma espiritualidade muito rica e de grande
aprendizado! Como educadores no “meio dos pobres e oprimidos” trabalhávamos
pelo empoderamento daquelas pessoas, para que elas se reconhecessem como
cidadãos e cidadãs, com direitos à dignidade expressa em acesso à justiça, à
educação formal, ao emprego com remuneração justa, à realização material e à
manifestação cultural e política.
Por onde passei me classificaram como persona non grata. E chegou um momento em que minha congregação
religiosa me trouxe de volta para o convento. Uma contradição se estabeleceu:
eu trabalhando a construção da consciência do sujeito histórico no meio popular
e eu mesma não estava podendo ser o sujeito da minha história. Foi quando
decidi deixar a vida religiosa. Mas sempre me mantive fiel ao Evangelho e à
construção do Reino de Deus na Terra.
Já no Nordeste comecei fazer uma crítica à Igreja e seus
dogmas. Quando a Teologia da Libertação foi banida e a Igreja na América Latina
sofreu perdas e retrocedeu nas práticas libertadoras comecei a me distanciar
dela.
Deixei a vida religiosa, mas não o cuidado com minha
espiritualidade e determinação de coerência com seus valores.
Deixei a vida religiosa em 1992, mas a reflexão sobre Deus e
seu Reino se mantiveram em constante atividade. E agora, 27 anos depois, eu
reformulo para mim minha compreensão sobre Deus, um modelo de compreensão da
Realidade.
Sistematizei um modelo que “cabe no meu coração”. E alguém
pode me indagar sobre sua veracidade. A questão não é “se corresponde a verdade
ou não”. Não existe verdade absoluta. O que existe é uma aproximação possível.
A questão é se o meu modelo responde às minhas indagações. A outra questão é se
essa postura me leva a respeitar a verdade do outro – verdade dele para ele.
Hoje vejo tudo conectado numa grande e complexa rede cósmica.
A Terra já passou por algumas extinções em massa e, por tabela, possivelmente,
passará por outras. As estrelas nascem e morrem e seus restos nos alimentam e
fornecem elementos para tudo que fazemos na Terra – os elementos de nossa
Tabela Periódica. O Universo e tudo o mais é cíclico. Parece que a morte é um
componente inevitável para a reciclagem, desenvolvimento e perpetuação da Vida.
Quando estudei História tive a plena convicção de que fazemos Cultura e
História porque morremos.
Aqui é uma escola onde a gente põe o uniforme, assume um corpo
físico, para se experimentar na matéria, se desenvolve, cresce em sabedoria ou
não... Acho que foi o astrofísico Carl Sagan que disse que o nosso sistema
nervoso é a estrutura através da qual o Universo toma consciência de si. E isso
é lindo! Somos seres espirituais nos manifestando em frequências mais densas, a
matéria; somos Deus se experimentando em seu Universo criado.
Minha busca para compreender Deus no contexto de uma História
heterodoxa que fala de nossa origem extraterrestre, bem como de sua atuação na
manipulação genética que nos conferiu um salto evolucionário, me trouxe muitos
conflitos internos. Afinal, meu sistema de crenças estava assentado na teologia
cristã católica. A duras penas consegui paz interior reformulando para mim o
alicerce de minha sustentação teológica.
Toda realidade é
energia, vibração. Tudo o que existe é a Vibração! Deus é o Sopro que
possibilita e sustenta a Vibração. Tudo o que existe é o Sopro, que se
manifesta na Vibração, cria a vibração, insufla a vibração. Aos nossos pais
criadores, seja essa realidade que denominamos Deus, os criadores de nossa alma
ou nossos pais biológicos merecem nossa gratidão, a maior expressão de amor.
Mas não se identificam com a Fonte, o Sopro, que traz tudo a existência. Somos
Deus, mas não a Fonte, o Sopro! Somos Deus e é da nossa natureza divina criar o
mundo. Tudo que fazemos se insere nessa pulsão de vida.
O Deus nos apresentado
pela Bíblia Sagrada (nos dada pelos Anunnakis/ extraterrestres, nossos pais
criadores?) foi aceito por nós devido à nossa natureza divina, que anseia por
transcender a imanência de nossa natureza biológica, física, que nos encerra em
nós mesmos e nos aprisiona – nascer, crescer e fenecer. Nossa natureza divina
nos predispõe a acreditar porque ansiamos pelo contato com o Transcendente, o
Divino, que sendo em nós não conseguimos acessar, apenas intuir.
A Boa Nova do Evangelho
de Jesus o Cristo consiste em nos libertar do Deus do Antigo Testamento, um
senhor nibiruano, e nos dizer que somos a manifestação do Criador Primordial,
que carregamos em nós seus atributos, que nossa relação com Ele é como a
relação de um pai para com seus filhos, isto é, de amor, de cuidado, de
nutrição, de confiança ... O papai, o paizinho! A Boa Nova do Evangelho de
Jesus foi e é nos colocar voltados para nós mesmos para que possamos VER o
nosso Criador Primordial, ficar face-a-face com ele, o Pai, o Sopro, a Fonte, o
Grande Mistério.
A outra mensagem da Boa
Nova de Jesus é o ensinamento do Amor. “Ame ao próximo como a ti mesmo.” “Se
lhe derem uma bofetada numa face dê a outra.” Jesus não está dizendo para
darmos literalmente a outra face. Ele está dizendo do poder da empatia. Pelo
amor e respeito a nós mesmos vamos reagir, mas nos colocando no lugar do outro
para termos a medida certa da reação.
O Deus do Antigo
Testamento é cruel e “nacionalista”. Ao seu povo tudo e aos outros povos a
morte. Aos seus submissos e obedientes tudo, aos rebeldes e desobedientes o
castigo, a punição.
O contato com Ele
sempre através de algum eleito, como Moisés, por exemplo. O desdobramento disso
foi o desempoderamento.
Depois de submetidos a
um Deus tirano, a submissão a qualquer hierarquia fica implícita e aceita como
normal.
Jesus veio nos dizer
que somos filhos, criados a Sua semelhança. Que poderíamos fazer as mesmas
coisas que ele, Jesus, fazia. Mas a gente não acreditou, porque ainda é o Deus
do Antigo Testamento que subliminarmente nos norteia – somos movidos pelo MEDO.
Uma vez perguntaram
para ao Ken Wilber por que Deus encarna. E ele respondeu: “Porque é muito sem
graça jantar sozinho!” Somos Deus que se esqueceu quem é para se experimentar
em sua criação. Nossa jornada do espírito é reconhecer quem somos e reintegrar
Tudo. O outro é meu outro EU. Por isso dar a outra face, isto é, se colocar no
lugar do outro para compreender o comportamento. Corrigir com rigor, mas
amorosamente. Esse é o nosso aprendizado.
O desdobramento dessa
concepção é o reempoderamento, mas não podemos sair matando esse Deus da
religião. O sentido da vida em suas agruras é suportado pela fé em Deus; a fé
em Deus funciona como catalizador do próprio poder, para realizar os pequenos
milagres pessoais de nossa existência.
A religião está
alinhada com um estágio específico cultural e de consciência. O grande problema
é que crescemos, frequentamos a Escola Formal, mas, do ponto de vista
espiritual, continuamos com aquele conhecimento infantil do catecismo, da
escola bíblica. Crescemos, nos tornamos adultos cônscios de seu lugar no mundo,
letrados ou não, mas conhecedores da ciência do viver e do relacionar-se. Então
nos distanciamos da espiritualidade e, ou vivemos uma vida espiritual morna
dentro da prática religiosa, ou abandonamos a religião e tocamos a nossa vida à
revelia de sabermos quem somos de fato e de direito. Muitas vezes uma vida sem
sentido, depressiva, sem poesia. Nossas inteligências racional e emocional
ficam capengas por falta da inteligência espiritual que tem a função de
integrar a duas anteriores. (Livro Inteligência Espiritual – Danah Zohar)
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